por Gennaro Moretti
O tempo é o mestre do conhecimento, do aprendizado e da sabedoria.
Desde a infância, a começar pelo ambiente familiar, acumulamos experiências na constante tentativa de aprendermos a conviver socialmente. Descobrimos que, dentre as mais nobres virtudes, o cultivo da verdade tem um caráter estruturante para a nossa própria existência e para uma vida social harmoniosa.
Não há quem goste de ser ludibriado e mentir é como roubar de alguém algo precioso, privá-lo de um bem essencial. Imagine-se doente e seu médico ocultar a verdade sobre o seu real estado de saúde? Faltar com a verdade é uma falha de caráter que, ao lançar mão de uma ferramenta viciosa – a mentira –, corrói a qualidade do tecido social e das boas relações, tendo como desfecho certo o erro, o descaminho, o desastre.
No entanto, mesmo a verdade nos reserva suas armadilhas: é como portar uma “arma branca”, com o ônus das responsabilidades decorrentes, somado ao risco de que possa ser usada contra nós, nas situações mais críticas. Por isso, como elemento basilar ao sucesso pessoal e profissional, é preciso saber manejar a verdade habilmente e com diplomacia, sempre com o intuito mais construtivo. Se usada sem a devida cautela, até mesmo uma qualidade tão digna poderá ferir suscetibilidades e ter efeitos deletérios.
Uma verdade revelada intempestiva ou prematuramente, pode resultar num ato condenável, como denunciar um delito sem as provas devidas, algo que poderia dar ensejo ao contra-argumento da calúnia. Sabemos que a calúnia é, ela mesma, um delito punível pelos termos da lei (ainda que a negação da verdade também o seja).
Por outro lado, quando investida de bom senso, a verdade traz um espectro incomensurável de reflexos positivos. Ser verdadeiro, consigo e com o próximo, abre caminhos e lapida o caráter de um indivíduo rumo à dignidade e à credibilidade. É fantástico perceber como este conceito, traduzido em atos, afeta as nossas manifestações ativas e passivas. Quando fiéis às nossas próprias verdades, capitalizamos conquistas, comprovamos o seu poder transformador e nos gratificamos com a corrente virtuosa que é gerada e multiplicada, a partir de nossas condutas idôneas.
Mas, como encontrar a medida exata entre dizer a verdade, da forma justa e no momento oportuno? O caminho da verdade é sinuoso e tem suas peculiaridades estratégicas: devemos nos orientar por princípios ponderados, que nos previnam de municiar eventuais opositores de moral e ética duvidosas. Assim, fazer da verdade nossa aliada é parte de um longo percurso pessoal que, entre erros e acertos, conduz ao equilíbrio dessa equação a cada novo desafio que a vida nos impõe.
No final da década de setenta, a publicidade brasileira produziu uma campanha de cigarros de grande repercussão, gerando uma leitura pública que rapidamente se popularizou como a “Lei de Gérson”. Segundo este preceito, “levar vantagem” seria um ato de inteligência, de esperteza e até mesmo de superioridade em relação aos demais. A campanha, um infeliz subproduto do zeitgeist de então, expôs de modo desastrado e involuntário uma faceta individualista e predatória arraigada em nossa cultura.
Quatro décadas depois e tendo o país passado por um amplo processo de democratização política, ainda pairam sobre nós os resquícios de um equívoco que resiste ao tempo: a ideia de que “ser honesto é sinônimo de ser ingênuo”. Tristemente, ainda há quem insista em alimentar os vícios morais que degeneram as relações humanas. Uma influência negativa, principalmente sobre aqueles que não têm uma formação sólida, sedimentada nos princípios da verdade e da honestidade, e que acabam por adotar e replicar um comportamento oblíquo.
Por fim, convivemos agora com a crescente intransigência das verdades individuais ou de grupos específicos, que só geram intolerância, hostilidade, atrito e violência, em suas mais distintas vertentes: religiosa, política, de gênero e, pasmem, até mesmo esportiva. Tamanha inflexibilidade e falta de respeito à pluralidade de verdades possíveis, somente desagrega pessoas ao invés de congregá-las.
“Vantagem”, ao contrário do que preconizou a velha publicidade, é caminharmos juntos, imbuídos de bom senso e cordialidade como princípios cardinais, nesta bússola que nos conduz a uma vida mais íntegra e plena, em real consonância com nossos familiares, amigos, colegas… Enfim, com o nosso semelhante.
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Prezado Senhor Gennaro, parabéns por esse artigo. Eu preparo jovens sucessores e com a sua autorização vou trabalhar esse conteudo com eles.
Luiz A. Renaud – Consultor e Coach