Análise & Opinião | Gestão e Nação
por Gennaro Moretti
Proponho aqui uma pausa para refletir sobre o momento político, social e econômico do país, este empreendimento de vasta dimensão.
Afinal, é impossível ficar indiferente diante de uma situação delicada e preocupante como a que atravessamos. Em tempos assim, complicar e mistificar é a estratégia mais comum para ofuscar a realidade e criar ilusões efêmeras.
O mundo das instituições públicas (e também de algumas organizações privadas) é pródigo em complexificar toda sorte de temas. Ao “mistificá-los”, conferindo um peso demasiado a questões irrelevantes, a classe política cria um problema de POSTURA e de GESTÃO numa escala amplificada, pois afeta milhões de cidadãos e desenha o destino de muitas gerações.
A meu ver, é preciso simplificar: gerir um país é como gerir uma família. Muda o tamanho, mas as regras básicas são sempre as mesmas. Como já mencionei em inúmeros artigos anteriores, a simplicidade é uma arma poderosa para enfrentar os problemas mais complexos. Basta deixar de lado a vaidade, a sede de poder e a cobiça que tudo se resolve da forma mais humana, justa e equilibrada.
Não há dúvida de que há soluções possíveis para o Brasil, muitas delas de longo prazo. O entrave é que nem sempre convém a quem está no poder colocá-las em prática. Muitos de nossos governantes se portam como verdadeiros senhores feudais. Aqueles que estão de fora do jogo político, por sua vez, não querem ou nem mesmo sabem como questionar, enfrentar ou cobrar eficiência dos seus representantes legítimos, eleitos por força do seu voto.
Para justificar o injustificável, a desculpa de que se valem muitos políticos é o tamanho do Brasil, e as dificuldades que advêm dessa enorme cadeia de instâncias administrativas e burocráticas. Discordo de que o problema seja a extensão do país – em uma escala pessoal, qual cidadão não aprendeu como manter sólidas as bases da sua família? Quem não sabe ser impossível sobreviver com dispêndios incompatíveis com os seus próprios ganhos? Qualquer pessoa entende que a melhor forma de cultivar uma vida próspera é investir em sua saúde, educação, cultura e ofício. Sabe que o trabalho dignifica e que o aprimoramento da sociedade passa pela soma das ações individuais. A cargo do poder público, restariam ações análogas em prol do bem-estar coletivo, pautadas pelos mesmos princípios elementares que regem as escolhas individuais. O empecilho, portanto, não é a dimensão do país, mas os vícios e malfeitos que comprometem nossas instituições.
Pode-se, ainda, comparar o país a um condomínio de moradores onde todos os recursos arrecadados pela taxa condominial são consumidos pelo custeio de funcionários – nada sobra para a compra da vassoura, apesar dos inúmeros funcionários contratados para a limpeza; não sobra dinheiro para comprar as lâmpadas das áreas comuns, a despeito do dispêndio com o salário do zelador do edifício. A única saída seria aumentar a taxa condominial, certo?
Errado. No Brasil, perdemos a conta de quantas vezes aumentamos ou criamos novos impostos, sem nunca termos visto a solução dos problemas, que só fazem agravar, pois a máquina estatal cresce de forma desenfreada, onerando o cidadão. Este, pouco ou nada usufrui do retorno a que tem direito, na forma de bens e serviços comuns. Em nossa triste realidade cotidiana, é a viatura policial parada por falta de combustível, o hospital sem estrutura, remédios ou médicos, a escola sem professores, enfim, não faltam exemplos de má gestão dos generosos recursos arrecadados.
Mesmo com a CPMF que vigorou por anos e anos (muito além do caráter “provisório” a que veio), nunca se viu tanta gente penando, moribunda, em corredores de hospitais precários – só para citar uma, dentre as tantas mazelas que nos afetam.
Com a falta de transparência das instituições públicas, é difícil mensurar os bilhões de reais que o Estado consome para custeio próprio e de seus servidores, entre gastos diretos, indiretos e periféricos. Já o trabalhador, quem de fato contribui para as funções vitais do país, vive à margem da dignidade, pois divide seu salário, na forma de impostos cada vez maiores, com quem nada lhe fornece em troca, em termos de qualidade de vida.
É inacreditável a desenvoltura com que alguns políticos defendem suas questões pessoais, em detrimento dos interesses da sociedade; as barganhas acintosas entre governantes e partidos políticos, sob o pretexto de garantir uma suposta “governabilidade”. Ao invés disso, tais conchavos não se traduzem em real progresso, pois o preço pago aos “aliados” consome, de modo oblíquo, qualquer margem de benefício destinada ao povo.
Não há mais espaço para “senhores”. A política deve ser uma humilde e árdua missão, nunca um privilégio. Não se pode conquistar o cidadão com práticas populistas, oportunistas ou hipócritas, mas com soluções simples e objetivas: o enxugamento drástico da máquina estatal, com a remuneração digna (jamais abusiva) dos funcionários de todos os poderes, e a correta destinação dos recursos públicos para o desenvolvimento efetivo do país. É o que a nação brasileira espera dos poderes constituídos, aos quais deve respeito, mas de quem exige a devida reciprocidade.
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